A IA já roubou o seu emprego

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Pablo Neruda disse uma vez: “Escrever é fácil, você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca ideias.”

Programar é assim também. Você começa com uma instrução, termina com um ponto e vírgula e, no meio… coloca ideias.

Nos últimos anos, vimos uma transformação impressionante no mercado com o avanço das inteligências artificiais generativas — os modelos de linguagem (LLMs) como o ChatGPT e seus concorrentes, o que comumente chamamos de IAs, e como vou chamar neste artigo para fins de simplificação.

A velocidade dessa revolução é espantosa. Em pouquíssimo tempo, essas tecnologias deixaram de ser curiosidades para se tornarem ferramentas de trabalho, estudo e criação. E aí surge a pergunta: a IA já roubou o seu emprego?

Talvez ainda não, mas, dependendo de como você a usa, ela pode estar se preparando para isso.

Explore com curiosidade e ceticismo

É preciso entender o que ela faz, por que faz e o que você está pedindo que ela faça. Usar IA sem senso crítico é perigoso, principalmente para quem ainda está aprendendo. Ela deve acelerar seu aprendizado, não substituí-lo.

Eu mesmo já usei IA para automatizar tarefas demoradas: gerar scripts, montar consultas, criar trechos de código ou pequenas aplicações inteiras, até para ajudar a escrever este texto. Mas sempre em situações em que eu sabia o que estava pedindo. Eu entendia a lógica, sabia validar o resultado e revisar o que foi entregue. Ela apenas acelerou um processo que eu já dominava.

A IA deve ser ferramenta, não substituto.

Quando você pede à IA para fazer algo que você não sabe fazer, você não aprende. E se você não sabe revisar o resultado, não tem como saber se ela errou — e ela vai errar.

Um estudo da Veracode mostrou que ferramentas de desenvolvimento com IA geram código inseguro em 45% das vezes. Entre as linguagens analisadas, o Java teve o pior desempenho, com apenas 28,5% das gerações consideradas seguras. Os modelos foram bem em alguns tipos de falha (como criptografia insegura e SQL injection), mas foram desastrosos em cross-site scripting (13,5%) e log injection (12%).

Se a IA pode te substituir, ela vai te substituir

Esse ponto é especialmente importante para quem ainda está na faculdade ou começando a carreira. Vejo muitos estudantes usando IA como substituto — deixando que ela faça os exercícios, escreva os códigos, monte os trabalhos. Isso é um grande erro!

Porque, se a IA pode te substituir, ela vai te substituir. E o mercado não vai precisar mais de você.

Tarefas repetitivas, mecânicas, que antes eram atribuídas a juniores ou estagiários, agora podem ser automatizadas em minutos. Se você pula essa etapa e se apoia na IA, você pode até entregar o resultado, mas não constrói conhecimento.

Primeiro você aprende a dirigir

Aprender programação é como aprender a dirigir. No começo, você se preocupa com cada detalhe: trocar marcha, segurar a embreagem; na programação, você se esforça para lembrar o comando do for, o while, a sintaxe correta. Com o tempo, isso se torna natural. Você para de pensar no “como” e começa a pensar no “para onde”.

É nesse momento que a IA pode brilhar: quando você já domina a base e quer ir além. Quando a programação flui naturalmente, a IA pode te ajudar a pensar em alto nível, testar hipóteses, automatizar partes chatas. Mas se você ainda está decorando o básico, ela só vai te atrapalhar.

Programar é 90% pensar

Programar é 90% pensar — entender o problema, planejar, testar hipóteses, buscar soluções, evitar bugs. O código é apenas o resíduo desse esforço mental.

Programação não é linha de produção — é design, é criação. Forçar movimento não gera valor. O que realmente importa é a qualidade do pensamento.

Conclusão

A IA é uma revolução, mas também traz grandes problemas. Ela amplifica tanto nossa capacidade quanto nossas limitações. Se você a usa para aprender, criar e pensar melhor, ela te torna mais forte. Mas se você a usa como atalho para pular etapas, ela vai te substituir.

No fim, a verdade é simples: você não vai perder seu emprego para a IA, mas sim para alguém que sabe usar IA melhor que você.

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